ENTRE O ASFALTO E A CHUVA: FRONTEIRAS E RESISTÊNCIAS NOS CONTOS DE LUANDINO VIEIRA E MIA COUTO

O cerne desta pesquisa é realizar uma análise comparativa entre os contos “A fronteira de asfalto”, que faz parte do livro A Cidade e a Infância (1960), do escritor português que se autodeclarava angolano, José Luandino Vieira, e o conto “Chuva: a abensonhada”, integrante da obra Estórias Abensonhadas (1994), do escritor moçambicano Mia Couto, um dos maiores nomes da literatura africana contemporânea. A análise parte das temáticas de Fronteira e Resistência, buscando compreender como os contos constroem a ideia de fronteira como espaço de exclusão ou de transformação. A hipótese inicial é que ambos os autores utilizam mecanismos simbólicos, especialmente o uso de metáforas, como forma de representar as desigualdades herdadas da colonização. No conto de Luandino Vieira, a fronteira entre os personagens Marina e Ricardo é marcada pela desigualdade social e racial no contexto de Angola pré-independência, simbolizada pelo asfalto que os separa. Já em Mia Couto, a chuva é símbolo de renovação, fé e superação de um passado marcado pela seca e pela guerra. Os dois autores subvertem a norma linguística portuguesa, incorporando oralidades e neologismos, criando, assim, uma linguagem própria, profundamente enraizada nas culturas africanas locais. A metodologia adotada é de natureza qualitativa, baseada em pesquisa bibliográfica e análise textual comparativa. Como fundamentação teórica, utilizamos os aportes de Carvalhal (1991; 2003), Nitrini (2010), Zamora (2012), Fanon (1961), bem como os estudos contemporâneos de Lopes, Souza e Borges (2024), os quais contribuem para a reflexão sobre literatura comparada, colonialismo, resistência e linguagem.