LIMA BARRETO E A MEMÓRIA TRANSFIGURADA

Resumo: O presente estudo se debruça sobre o livro "Cemitério dos vivos", de Lima Barreto, a fim de estudar as complexas relações que se dão na fusão entre a memória e a literatura. "Cemitério dos Vivos" é importante meio de entrada para se compreender as questões que dizem respeito à narrativa de Lima Barreto. Misto de autobiografia e ficção, o livro é composto por trechos de diários que o escritor carioca manteve durante uma de suas internações no manicômio, em função de suas crises de alcoolismo. Desde o título do livro, vê-se que a literatura, para ele, tinha uma dimensão orgânica, que se amalgamava à própria experiência do escritor, e esta lhe fornecia o húmus, a matéria prima, que, no horizonte da memória (imediata ou longínqua) seria transfigurada em literatura. Aqui, toma-se a literatura como transfiguração, não repetição ou espelho da vida. Ao analisarem-se as escolhas narrativas de Lima Barreto - desde a técnica estilística até a eleição dos meios para plasmá-la, pretende-se demonstrar como o papel da memória literária atua como um parâmetro de mesura e edição da memória biográfica, autorizando-a, desautorizando-a e, por fim, transformando-a.